terça-feira, 6 de outubro de 2009

Eu e Drummond

Sou Bebé, sou Beca, sou Becky e principalmente, sou Rebeca.
Certa vez, meados do século passado, um certo poeta itabirano profetizou minha chegada a esse mundo, e já me descrevendo e explicando minha eterna contradição Carlos sintetizou em seu Poema de Sete Faces:

"Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás das mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Pra que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.

Porém, meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo."

Carlos ainda completou e explicou meus sentimentos:

"Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor."

E assim Carlos me explicou, sempre torta, sempre comovida, séria, simples e forte.
E, com meus poucos e raros amigos, sempre preenchendo meu imenso coração.
A quem queira perguntar se é um desses amigos, não se dê ao trabalho, pois se assim o fosse, o saberia.
Mas meu imenso coração está aberto, sempre escancarado na pretensão e na eterna esperança de cada vez se encher mais ainda.

2 comentários:

  1. Réquiem para Drummond

    Vai-se o gauhe, findando
    a semeadura de estrelas.
    (coro) A PALAVRA TEM LUZ PRÓPRIA...

    Eleva-se no colo
    de uma amnésia leve,
    esquecida de se despertar de um sono.
    (coro) A VIGÍLIA
    É APENAS ACIDENTE...

    Daí, as asas sem leme
    levam-no ao infinito sem retorno.
    A saudade não se inventa.
    (coro)O CÉU NÃO ESCOLHEU AINDA O SEU LUGAR.

    Premiada a terra,
    os limbos, os oceanos,
    quando apagada uma luz,
    pelos seus próprios dedos.
    (coro) MAS O INFERNO
    É AQUI MESMO

    A nova flor que surge,
    a nova estrela,
    enfeitando a abóboda-mortalha.
    (coro) E ASSIM,
    FOGEM OS ÚLTIMOS ILUMINADOS

    O mar se repleta
    de festa de prantos e
    a agonia chega à orla do poema.
    (coro) AH... RESSACA TRISTE.
    APENAS TRISTE, SEM FÚRIA!

    Egoísmo, sim!
    Tal qual injusto sonho,
    acorrentado o jogral na chapa quente, a terra.
    (coro) POR ISSO,
    OS VERSOS SUBLIMAM-SE.

    Vai-se o gauche do dia a dia,
    procurar a fertilidade
    para plantar estrelas
    e, no trigal de um canto,
    encontrará o seu repouso.
    (coro) POIS A MORTE É O FERIADO DOS POETAS!

    Obs.: Podem-se ler em partes separadas do solo e do coro; tanto este, como aquele.

    Autoria: Danilo Horta

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  2. E mais uma vez... Parece que o sangue fala alto e até meu ídolo é o mesmo que o do nosso pai, hein? rsrsrs

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