sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Minas (Rebeca Fidelis Horta)

Minas é montanha, é céu,
Vôo livre ou a liberdade da praça.
Minas é muito mais que ouro,
É avião de Santos Dumont,
É asa delta e parapente dos ingleses
Mais que o radical de BH,
Mais que o amor dos moradores.

Minas não tem mar, mas não é só bar
Minas é pão de queijo, é dengo,
Amor, hospitalidade,
Patriotismo cercado pela serra.

É um indescritível cheirinho de café com rapadura,
É acordar e comer broa.
É trabalhar na multidão e fugir por uma hora pra cachoeira.
É lavar a alma nas águas cristalinas.
É nascer com o velho Chico.
É ler Drummond e Guimarães Rosa.

É ser sério, simples e forte como um itabirano,
Mas nunca deixar de amar as flores e um bom mato
Mineiro é bicho da terra, gosta de queijinho do serro
Ama a liberdade dentro de si mesmo
E nem precisa se afastar da serra, pois,
Seus horizontes são mais amplos e muito mais belos!


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terça-feira, 6 de outubro de 2009

Eu e Drummond

Sou Bebé, sou Beca, sou Becky e principalmente, sou Rebeca.
Certa vez, meados do século passado, um certo poeta itabirano profetizou minha chegada a esse mundo, e já me descrevendo e explicando minha eterna contradição Carlos sintetizou em seu Poema de Sete Faces:

"Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás das mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Pra que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.

Porém, meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo."

Carlos ainda completou e explicou meus sentimentos:

"Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor."

E assim Carlos me explicou, sempre torta, sempre comovida, séria, simples e forte.
E, com meus poucos e raros amigos, sempre preenchendo meu imenso coração.
A quem queira perguntar se é um desses amigos, não se dê ao trabalho, pois se assim o fosse, o saberia.
Mas meu imenso coração está aberto, sempre escancarado na pretensão e na eterna esperança de cada vez se encher mais ainda.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O Desejo (por Rebeca Fidelis Horta)




“Que dias há que n'alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê.”

Assim disse o eterno sonhador e inspirador de tantos sonhos impossíveis e desesperados: Camões, um eterno romântico. Mais me parece um total inexperiente nas loucuras de paixão. Fernando Pessoa, certo dia escreveu algumas poucas, porém sábias palavras que diziam:

“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.”

E talvez seja mesmo essa a explicação: Camões nunca realmente viveu amor algum, sequer viveu paixão alguma, daí seus motivos – uma boa dose de amor platônico em conjunto com a veia poética, fazem do poeta, eterno fingidor, um perito para ditar belíssimos versos.
Perfeito!... Não fossem pura ilusão, suas palavras...
Antes que eu me coloque em alguma situação um tanto embaraçosa e me faça parecer algum tipo de odiosa solteira que, infeliz, torna-se convicta de que não existe, nem nunca existirá o amor nesse mundo, começarei a escrever novamente, explicarei meus motivos e os pensamentos e tentarei ao máximo, ser concisa e organizada:
Relacionamentos... Por que são tão constantemente, os pensamentos prioritários em nossa confusa, difusa, tantas vezes dilacerada, traiçoeira e enganosa mente? Por que os desejamos tanto? Por que não conseguimos viver sozinhos? Por que sempre sonhamos e sonhamos cada vez mais alto?
Todos desejam um “amor pra vida toda”, uma “alma-gêmea”, alguém que nos ame, que nos cuide, que nos respeite, que divida conosco as dores e alegrias não apenas dos momentos especiais, mas também dos costumeiros e enfadonhos momentos de rotina.
Eis o motivo: desejo é o que nos mantém vivos, é o que nos impulsiona. Sempre desejamos mais. Os pobres desejam ser ricos, o que os impulsiona a trabalhar. Os ricos desejam mais simplicidade nas relações e nos afetos, mais sentimentos verdadeiros. Os solitários desejam amigos e família. Os populares desejam “paz”, querem momentos só pra si, poder se isolar quando houver necessidade. Mulheres sentem o impulso da natureza e, desejam tanto ter um filho, que pensam que esse é o único motivo pra elas terem nascido. Mães se saturam com a presença dos filhos e desejam ter “ao menos um dia de tranqüilidade” esporadicamente.
Todos queremos nos casar para ter companhia, mas quando nos casamos, desejamos ser solteiros pela liberdade. Esse é o triste funcionamento da disfuncional máquina chamada “ser humano”. Quando paramos de desejar, nos tornamos meras carcaças à beira da morte, esperando que algo acabe com nosso sofrimento e desesperança. Por isso nos apaixonamos tanto por nossos sonhos.
Apenas conseguimos viver e continuar nossas vidas se estivermos insatisfeitos. Por isso as tristezas duram mais do que as felicidades da vida. Mesmo tendo motivos constantes para ficar felizes, precisamos sair do comum, do ordinário. E, apenas o extraordinário consegue nos alegrar. Isso por conhecermos apenas alegrias frias e torpes. Não conhecemos a verdadeira felicidade.
Os homens dizem que as mulheres gostam de sofrer, pois sempre se apaixonam pelo homem que as trata mal, que não se importa com elas, ao invés de se apaixonarem pelos que se apaixonam por elas. E aí fica a pergunta: o que veio primeiro, o ovo ou a galinha?
A mulher se apaixona pelo homem que a desdenha, ou o homem desdenha a mulher que se apaixona por ele? A mulher desdenha o homem que se apaixona por ela ou o homem se apaixona pela mulher que o ignora?
Os homens ao afirmarem isso com tanta certeza, se enganam, não por ser diferente, pois não é. As mulheres realmente se apaixonam pelos homens errados, mas primeiro: não são apenas as mulheres que o fazem, e sim o ser humano. Esse é um dos típicos comportamentos da nossa raça. Segundo: não o fazemos por gostar de sofrer, e sim por “pensar” (inconscientemente) que é o necessário para nos mantermos vivos. Se todos nos casássemos com quem amamos, sempre reciprocamente, nossa alma-gêmea, que combina conosco em tudo e nos completa, não seríamos felizes, pois não teríamos problemas e deixaríamos de desejar.
Eis o motivo de eu dizer que Camões escreveu sem conhecimento de causa. Apesar das lindíssimas palavras, se ele tivesse vivido a paixão em sua íntegra, sofreria mais. Não apenas pela dor causada pela paixão, mas pela dor causada pela vida e pela rotina. Quem vive uma relação real no mundo real, não consegue ser constantemente poético e romântico. A única paixão capaz de nos manter sempre românticos é a idealizada, a platônica, por não ter defeitos, a não ser o de não ser realizável. Mas nesse caso, é uma boa opção para o poeta, que se utiliza da dor da paixão irrealizada para sofrer em versos.
Digamos assim: como Vinícius de Morais conseguiu viver várias paixões e ser sempre romântico? A resposta é simples: ele nunca se manteve por muito tempo com uma mulher apenas. Então: ou Camões teve várias mulheres e em cada época ele falou sobre uma delas, ou ele falou de paixões idealizadas enquanto vivia uma vida comum, afinal, todo poeta é um fingidor.
E, enquanto vivemos os nossos anacronismos intelectuais e nos causamos tanta dor e sofrimentos, acreditamos ser injustiçados e castigados pela vida.
Mas, sob o risco de parecer banal e comum, eu digo que talvez devêssemos simplesmente parar de pensar um pouco, por algum tempo, nos deixar levar. Será que ao encontrar a perfeição e parar de desejar, não seria o momento em que realmente nos tornaríamos felizes e divinos? Afinal, se a perfeição deixasse de ser almejada, estaríamos nos acomodando e, isso, ao meu ver, sempre me parecerá o momento em que realmente paramos de querer.
Então, queira! Queira tudo, mas não descarte o que tem para poder querer mais e melhor. Ter é tão bom quanto querer. Eu quero um companheiro e já de antemão, eu digo que não quero ser sufocada. Não espero que ele seja perfeito, mas que ele deseje ser perfeito, assim como eu desejo. Acima de tudo, eu quero não precisar mais querer, ou seja, quero chegar a um ponto em que eu me sinta completa e realizada o suficiente para mim mesma. É nesse momento que eu poderei ser tudo o que eu puder. Poderei exercer todo o meu potencial.
Apesar do meu sentimentalismo, não serei uma feminista piegas a ponto de dizer que meus desejos são os típicos desejos de uma mulher. Não, nesse momento sou apenas um ser humano com todos os seus defeitos, qualidades, esperanças e desesperanças. Sei que apesar de não assumirem, os homens desejam tanto o amor quanto as mulheres, apenas o desejam de forma diferente.
Então, direi apenas que acredito que toda história tem três lados: o lado de um, o lado do outro, e a verdade. Qual será o meio termo? Deve ser aí onde se encontra o amor verdadeiro e a pureza de sentimentos. Deve ser aí onde se encontra a realidade, a não-idealização da perfeição, a aceitação um do outro, o não-desejo, a concretização.

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domingo, 27 de setembro de 2009

Trapezista (Danilo Horta para Rebeca Fidelis Horta) - In Memoriam - 7 anos (27/09).

Meu pai (Danilo Horta) comigo no colo


Passos lentos, os meus.
Porque retardaram tanto
as soluções sensatas,
mesmo que viesse esta distância compulsória.
Só o salto lépido
me fez capaz de conquistar a liberdade.
Mas, que saudade!...
E, mesmo ríspido com uma decisão,
eu tento.
Tenho talento
para enfrentar afrontas místicas.
Tenho malícia cabalística
no desvendar de sonhos
e tantas equações fantásticas.
Minhas emoções...
Ah... emoções elásticas que vão e voltam
a cada momento!
E, quando vão, nada levam.
Mas retornam, trazendo devaneios.
Olha, pequena namorada:
minha aventura é trapezista.
Rodopio no ar como um artista e,
em um segundo,
faço-me eterno, porque,
nas frações de um tempo tão duro,
busco ainda o futuro,
ou a segurança de uma corda.
Ah!... tempo tão curto
é este
do meu vôo obrigatório!
Mas nem assim me furto
À construção de um ninho.
Ainda assim eu tento abrigar-te com carinho
no meu peito.
Insatisfeito com frações de tempos
cerimoniais,
espaços circunstanciais
e o rompimento compulsório.
Distância... tempo... espaço:
carrascos das revisões desnecessárias,
trazendo frustrações e sonhos malogrados!
No meu salto tríplice,
posso sentir a emoção do ápice
ou do risco de um vôo cego.
Mas, mesmo assim, apego-me
às soluções sensatas.
E, nas travessuras de um trapézio,
ainda te amarei.
Nesta visão relâmpago,
ou na fração de um segundo,
desperto-me
e encontro existência,
mesmo para a reticência,
que é a vida,
pois que esta saudade
é meu futuro
e teu sorriso é minha corda.

By Danilo Horta

A verdade sobre a calcinha (por Rebeca Fidelis Horta)


Roupa íntima, roupa de baixo, lingerie, calcinha: são alguns dos nomes utilizados para a definição de uma pequena peça de vestuário íntimo feminino. Vagina, as “partes”, a “perseguida”, a “perereca”, entre vários outros nomes chulos, um tanto vulgares e não-pronunciáveis, são comumente utilizados para a denominação do órgão sexual feminino.
Mas, o que têm em comum as calcinhas e as vaginas que as faz merecer tantos apelidos? Por que uma tão pequenina parte do corpo possui tantos nomes como sinônimos? Primeiramente por causar extremo interesse de todos, por ser a parte que mais comumente interessa aos homens no corpo feminino. Em segundo lugar, a vagina recebeu tantos nomes devido ao tabu que causa. Socialmente, o sexo é considerado algo proibido, feio, errado. Seja por idolatrar a vagina, seja por rechaçá-la, ela recebe constante atenção, e, por isso, recebeu tantas denominações.
Mas o que faz das calcinhas, objetos de tamanho valor e atenção? Certamente, os homens não estão tão preocupados com o conforto e a higiene das mulheres, a ponto de desprenderem tanto tempo e esforços tentando descobrir como é a calcinha de cada uma delas. Creio que se fossem questionados qual o superpoder que cada um gostaria de ter, grande parte deles responderia a visão de raios-X, pra poder ver as calcinhas e o que elas escondem.
Ainda criança, fui ensinada a respeito dessa pequena peça: “Rebeca, você deve usar sempre a calcinha, ela a protege do contato com sujeira, a mantém limpa, e você não pode ficar se expondo. Ou você vai deixar que os meninos vejam sua “pererequinha”?”
Esse pequeno ensinamento é o perfeito ensinamento de uma boa família mineira e conservadora: o típico “matar dois coelhos com uma cajadada só”. Primeiro ele ensina em poucas palavras, com a boa e velha discrição mineira, que a calcinha serve para nos proteger: quando crianças, da areia e da terra suja dos playgrounds. Quando crescemos, nos protegerá do assédio e da “imundice” do sexo oposto. Nesse momento, aprendemos parte do tabu do sexo.
Quando falam que é a calcinha que nos mantém limpas, é nesse momento que começam a nos ensinar que o sexo é sujo. Mas ainda não satisfeitos com a nossa futura e praticamente garantida frigidez, nos ensinam que é vergonhoso nos expor, que nunca iríamos querer que um menino visse a nossa “pererequinha”. Apelam para a nossa vergonha e timidez de crianças para nos ensinar o que devemos ou não mostrar. Acabamos mais tarde não nos mostrando, mas não por acreditar no que é correto e sim, por vergonha de nos expor.
Cresci sempre aumentando a minha coleção de calcinhas. Adorava as do Hello Kitty e as dos Ursinhos Carinhosos. Aprendi que minhas calcinhas devem ser cheirosas. Ainda criança, já recebia sachês de presente com a explicação da bisavó: “Isso é um sachê, serve pra perfumar suas calcinhas”. A partir desse momento começamos a nos questionar que motivos têm as calcinhas pra ser especiais. Ora, por que diabos as roupas não merecem sachês? Por que apenas as calcinhas devem ter um cheiro especial? Será então que elas possuem um cheiro pior que o normal? E nos conformamos com um simples: “Deve ter cheiro de xixi”.
E continuamos crescendo... E os meninos cada vez mais aumentam a polêmica acerca da calcinha. Querem ver, fingem que não querem, dizem que sentem nojo. Inicialmente, até conseguem mesmo nos confundir e, aos poucos, vamos aprendendo que eles falam tanto com intenção de nos envergonhar, não apenas pra rir, mas pra entender o que eles mesmos não entendem: como funciona a calcinha e o mundo das mulheres. E eles caçoam, e sentimos vergonha... E um dia, como mágica, bum! Descobrimos a resposta perfeita! “Por que vocês passam tanto tempo pensando na minha calcinha? Como se fossem ver algum dia!”
Depois desse mágico primeiro momento, percebemos: a melhor forma de lidar com os homens é devolver a pergunta, é deixá-los tímidos, é encurralá-los. E então, damos a nossa primeira virada de perua, nos afastamos com cara de poderosa até um local onde possamos rir. E rimos! E rimos... não apenas por “devolver na mesma moeda”, como rimos por estarmos nervosas. E, na nossa cabeça, passa apenas um pensamento: “Como eu fiz isso? Como eu tive coragem de perguntar isso?”
É aí que mora o perigo: o poder é algo viciante, nos acostumamos com ele, queremos sempre mais, começamos os jogos de sedução, os jogos psicológicos... E tudo por causa da bendita calcinha!
Mas eis que um dia acontece: somos jogadas de cima do nosso pedestal ao ouvirmos os garotos na escola comentarem com imenso desdém a respeito das calcinhas que eles já viram: “sério, a menina... mó gata... mas com uma calcinha tão destruída... não que fosse furada, não era, nem nada, mas era calçola de algodão daquelas de avó!”
Toda a nossa vida passa em frente aos nossos olhos e nos lembramos instantaneamente de como sempre gostamos das tais “calçolas de algodão” tão fofinhas, agora com o Piu-piu e o Frajola. E então passamos a compreender que os meninos gostam é daquelas calcinhas bem ‘sexies’, de renda, pretas ou vermelhas, iguais às das nossas mães, as quais sempre achamos tão vulgares.
E nesse momento, pensamos: “é, calcinha de algodão é coisa de criança, mulheres usam lingerie de renda, bem sensual. Tenho que me adaptar”. E partimos então rumo à nossa próxima aventura com todos os seus perigos: vamos comprar novas calcinhas... mas... como fazer para a nossa mãe pagar por essas calcinhas? E então, na próxima saída às compras – ritual feito entre mãe e filha – nos encontramos nas típicas lojas de departamento – onde se encontra as velhas, boas e baratas calcinhas de algodão. Escolhemos uma blusinha, um top, uma saia, um pijama... e... partimos rumo à sessão de lingerie onde, como se estivéssemos acostumadíssimas, selecionamos um conjunto de renda vermelho bordô, sem ao menos olhar pra ele e ver se é bonito, para não correr o risco de sermos pegas escolhendo uma lingerie sexy.
Obviamente, mães são observadoras e, mesmo que não instantaneamente, acabam percebendo que pegamos um desses conjuntos. E então, com toda a sua antipsicologia de mãe moderna nos pergunta: “o que é isso?” Ela não sabe se chora, xinga, ou ri, mas ainda assim, e, mostrando todas essas reações, ela nos questiona imperativa e, em frações de segundos, encontramos lá no fundo uma frieza que parte ninguém sabe de onde e respondemos: “calcinha, ué! O que mais seria?” Nesse momento nos lembramos de rezar implorando a Deus que a controle para segurar a próxima pergunta... Mas... como era de se esperar, de nada adianta, ela pergunta assim mesmo: “E por que você quer essa lingerie vulgar?” Ainda nos controlando para não sair gritando de vergonha pela loja, respondemos: “porque as pessoas crescem, mãe! Eu não sou criança mais!”
Agora são duas sem palavras, tanto a mãe, quanto a filha. A mãe, pois não imaginava que a filha havia crescido e que estava tão segura de si. A filha, pelo mesmo motivo. As duas pagam a conta, a filha sai vitoriosa enquanto a mãe, calada dentro do carro, se afunda em seus pensamentos, imaginando em que ocasião a “sua menininha” usará “aquilo”.
Ao chegar em casa, a menina caminha segura para seu quarto, e, quando enfim vai olhar seu prêmio, sua conquista, ela percebe que comprou um conjunto de lingerie vermelho bordô, com calcinha fio-dental e soutien redondo com enchimento. Ela então se segura para não gritar, pensa que nunca terá coragem de usar aquele conjunto, o esconde no fundo de suas gavetas com medo de alguém algum dia ver “aquilo” e pensa que aos poucos ela pode dizer à sua mãe para comprar lingerie de renda e não de algodão. Agora pelo menos o tabu foi rompido.
Engano! Essa foi apenas uma das vezes em que isso ocorreria, mas, aos poucos, a menina se torna mais segura e “cara-de-pau” o suficiente pra dizer que quer uma calcinha de renda preta bem linda. E, provavelmente – erroneamente pensa ela – o tal “primeiro conjunto sexy”, servirá para algo mais tarde em sua vida.
E então, independentemente dos preâmbulos e da conquista, eis que um dia nos deparamos com a primeira vez que um namorado verá nossa calcinha. Sempre de forma desagradável e incômoda, há sempre o momento de nos depararmos com essa situação e eis que ele vê a nossa tão ”batalhada” lingerie sexy de renda preta, que compramos especialmente pra essa ocasião, para o momento em que ele fosse ver. Sem nem perceber que o conjunto de roupa íntima está absolutamente novo, ele nos olha com uma expressão de espanto, mas não diz nada. Ficamos absolutamente estarrecidas com o espanto do rapaz, sem compreender o que se passa em sua mente. Após todo o envergonhado ritual de troca de carícias adolescentes, eis que ele nos pergunta: “você usa calcinha assim?”
Em um misto de susto, medo e raiva, notamos a sua cara de julgamento, percebendo que ele passou a achar que somos vulgares e então respondemos: “assim como?” Pelo nosso tom passivo-agressivo de menina ofendida e nervosa, ele percebe que deve recuar, mas agora já é tarde e ele é obrigado a dizer que não imaginava que sua namorada usava renda preta, que ele achava que isso é “coisa de mulher mais velha”. Tentando corrigir dizendo que gostou, ele descobre o recurso que utilizará o resto de sua vida: sempre falar o que a mulher quer ouvir.
Obviamente não nos convencemos com esse discurso e tentamos ao máximo controlar as emoções, algo que os hormônios não permitem muito bem, e, de repente, aos prantos, assumimos que compramos a roupa exclusivamente para ele. Agora nos incomodamos é com a expressão de dó que ele nos mostra. E, achando “bonitinho” o fato da sua namorada ser uma menininha frágil, que “sabe menos” do que eles, eles nos consolam dizendo que adoraram.
Essa foi a primeira vez que descobrimos como derreter um homem com a sádica chantagem emocional do choro. Percebemos também que eles querem se sentir fortes e poderosos, que podemos usar isso ao nosso favor. Além disso, descobrimos que, apesar de eles desejarem uma mulher sensual, sexualizada, isso é apenas a fantasia falando mais alto. Eles querem a mulher quando se trata do desejo, mas querem a menina para ser suas. E é então que percebemos que pelo resto de nossas vidas, teremos que ter duas caras: a mulher sexy e poderosa que o deixa aos seus pés, e a menininha frágil que esconde a mulher. E então percebemos: “quem deve mandar na relação é a mulher, mas o homem deve achar que manda”.
A conclusão à qual podemos chegar é a de que sempre descobriremos mais e mais jogos, formas de manipular e controlar. E tudo começa novamente... por causa da calcinha!
Passamos a nos adaptar às novas descobertas, abusando da tal “malícia de toda mulher”, como disse Caetano Veloso. E seguimos vivendo assim. Algumas nunca vão além nessa descoberta, infelizmente. Outras, como eu, chegam a um momento em suas vidas em que percebem que todo esse jogo foi em vão, que apenas corrompeu o que poderia ser uma linda e saudável relação. Descobrimos que ao controlar e manipular, deixamos de ter algo verdadeiro. Descobrimos que ao fingir, não somos amadas, pois quem é amada é a mulher que eles pensam que somos.
Eu cheguei ao ponto ainda de perceber que eu não preciso fingir. Mesmo que eu fique solteira e sozinha, é melhor do que fingir, pois quando eu estiver acompanhada, será por quem sou: a menininha.
Algumas mulheres acabam por descobrir que são realmente as mulheres felinas controladoras. Algumas descobrem que são meninas e sempre serão meninas. Descobri que a felina que eu tinha em mim era apenas a minha incrível capacidade de atuação.
E então eu me revelei, saí do armário, assumi para meus amigos: eu sou e sempre vou ser a menininha que sonha em casar virgem! Nunca fui ‘poderosa’ e nem quero ser! Meu poder está em ser apenas eu, como sou. Aos poucos me encaminho rumo às minhas verdades, ao que é real pra mim.
Ainda me surpreendo sempre, bastante incomodada com o mesmo tipo de comentários que sempre me incomodaram tanto. Mas, se supero minhas inseguranças e loucuras, recordo-me de como são caras as belas calcinhas, de como eu passei a ficar mais confortável ao voltar a usar as calcinhas de algodão. Recordo-me que voltei às “calcinhas de criança” após recomendação médica, pois elas são melhores pra saúde. Acredito que os homens preferem isso à nossa velha inimiga candidíase.
Após o incômodo inicial em relação aos comentários machistas, me recordo do fato de que os homens não se preocupam com suas cuecas, nem sequer se preocupam com seus pêlos. Alguns não se preocupam com os cheiros e com a higiene. A maioria não se preocupa com as unhas. E nós, mulheres, que tanto fazemos para nos cuidar, estar sempre cheirosas e macias, devemos poder nos dar ao luxo de ser meninas se quisermos. Eu sei que sou mais feliz agora, mais moleca, mais autêntica. Ainda luto contra a insegurança, contra meu peso, contra tudo o que me desagrada, porém hoje sei que caso eu não tenha dinheiro pra estar sempre com lingerie nova e perfeita, eu posso usar aquela velhinha, meio descosturada e não ser dispensada por isso.
As mulheres que estiverem lendo esse texto, podem pensar nesse momento que sim, seriam dispensadas por isso. E não, eu não digo que não serão. Apenas digo que se um dito “homem” dispensa uma mulher por causa da roupa que ela usa, ele não merece ser chamado de homem, e sim de “menino infantil e fútil”.
Sempre vemos homens xingando uns aos outros de “bicha”, dizendo que se importar com a aparência, se cuidar, é coisa de gay. Veja bem, eu penso da seguinte forma: Estar cuidado e cheiroso se chama amor-próprio. Dispensar uma mulher pela roupa que ela usa é ser “bicha”. Obviamente esse homem se importa muito mais com roupas, moda, vestuário, do que um gay.
Pois eu gosto é de macho e, ao meu ver, macho que é macho, se cuida pois valoriza a própria vida. Macho cuida da sua mulher e a valoriza. Macho sabe que ela é forte, não a subestima, mas sabe também das suas fragilidades e está preparado para ceder seu colo caso seja necessário.
A todas as mulheres que se cuidam para os homens, eu tenho apenas uma palavra: goiaba. “Goiaba” é a gíria dada a mulheres que gostam de gays. Não, uma mulher não deve se descuidar, deve ser limpa e cheirosa, deve ser bem tratada e se tratar bem, mas deve fazer isso devido ao amor-próprio, e não por medo de julgamentos e cobranças.
E, quanto às calcinhas, se fizermos a nossa parte, se mostrarmos o quanto é difícil um homem chegar a vê-las, se nos valorizarmos e acreditarmos no amor, se eles tiverem que nos conquistar muito antes de poder ter a honra de nos ver nuas, talvez eles nem reparem no que estamos usando, e sim, fiquem verdadeiramente felizes, apaixonados, talvez até amem, pelo simples fato de enfim, nos entregarmos a eles, pois não nos entregaríamos apenas em corpo, e sim em corpo, alma e coração.

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sexta-feira, 25 de setembro de 2009

De Camilla Fidelis para Rebeca


"A palavra pororoca é de origem indígena (tupi) e significa estrondo (forte barulho da natureza). A pororoca é um fenômeno natural onde grandes ondas são formadas quando ocorre o encontro entre as águas de um grande rio com as águas do oceano.
Existem várias explicações para este fenômeno, mas a principal diz que sua causa deve-se à mudança das fases da lua, principalmente nos equinócios que aumenta a propensão da massa líquida dos oceanos proporcionando grande barulho!!!
Rebeca é assim, mulher pororoca, onde ondas selvagens e suaves formam uma única onda... Isso quer dizer que ela é Pura onda!!!
Adoro surfar na sua e na nossa onda!!! Que a gente possa surfar muuuito ainda pelas frequências e ondas astrais dessa nossa existência conspícua e eterna. Rumo ao paraíso dos desiludidos!!!
Beijo.
Te amo."

By Camilla Fidelis

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Auto Retrato (por Rebeca Fidelis Horta)

Auto-retrato criado em vetores (por Rebeca Fidelis Horta)

Paro e fico pensando, como poderia descrever-me em um auto-retrato? Como faria para explicar-me se fosse escrever um depoimento para mim mesma?
Penso que sou artista, sou emotiva, sou emocionada. Amo. Sinto. Vejo. Analiso. Como descrever algo tão complexo como a incrível profundidade e variedades contidas em um único ser? Inteligente, racional, irracional. Apaixonada, crente, cética, viva, por tantas vezes morta. Por tantas vidas, experiência.
A incrível vontade de descrever-me que antes sufocava-me, hoje leva-me a tentar. Menina triste, menina de esperança. Menina capaz de enfrentar o mundo por vida, capaz de enfrentar o mundo por amor. Menina que em momento seguinte se esconde do mundo, tem medo do olhar maldoso. Tem medo sobretudo, do olhar de compaixão.
Hoje não sou mais menina, sou mulher como tão poucas outras mulheres, sou quente, sou latente, fervente, escassa, exagerada. Ambigüidade, vivência, inocência. Como pode tanta vida e tanto desejo de morte? Como pode tanta dignidade em tanta farsa? Como pode tanta alegria, vivacidade, em tanto sufoco, medo, depressão?
Mas hoje sou escolha. Hoje sou pessoa. Não preciso mais seguir meus medos. Não me subjugo mais aos meus inimigos. Sou poeta, sou cinismo. Sou céu, sou inferno. Sou o que afirma e o que nega, sou contradição. Mas em minhas escolhas latentes, decisão. De depressão apenas me resta o questionamento. De infecção, restou apenas o sentimento somatizado.
Sou hoje um raio cósmico. Poeira cósmica? Nunca fui, nem serei. Sou muito mais que partícula. Sou parte do todo. Conseqüentemente, sou o todo. Hoje sou raio, sou o que ilumina, o que transparece. Luz. E novamente, sou vida.
Torno-me vida a cada mísero momento. A cada molécula respirada de oxigênio. Medo? Apenas de qual preço terei que pagar por ser infinita.
Infinito desejo.
Infinita paixão.
Infinita.
Eu.
Rebeca universal!

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O dragão e a libélula (por Rebeca Fidelis Horta)


Antes de começar a postar, sinto que devo explicar o nome desse blog.

Conta uma lenda indígena que no mundo antigo existiam dragões e que esses dragões conviviam no mundo, em harmonia e cooperação com os humanos.
Certo dia, começaram a perceber que eram mais fortes e começaram a alimentar uma ânsia por poder. Na busca pelo domínio, começaram a subjugar os humanos, a matar, a ameaçar.
E então, veio dos deuses a decisão: ensinaram a grande lição de humildade a esses seres fortes e orgulhosos. Transformaram todos os dragões em libélulas. Primeiramente, os dragões sofreram muito, mas depois foram percebendo que assim, pequenos, apenas insetos impotentes, voavam para todos os cantos com liberdade, enfeitando a vida com cores e formas perfeitas, podendo se esconder quando quisessem.
Com essa descoberta, veio a humildade, e foi então que descobriram a maior das lições: uma libélula voa ainda mais alto que um dragão, voa aos céus, até os deuses, em humildade e com paciência. Um vôo livre e leve.
É por isso que a tradução de libélula em inglês é "dragonfly". Dragon - Fly, dragão inseto, ou, o vôo do dragão.
Sempre me identifiquei profundamente com essa lenda. Muitas vezes derrubada, sempre me levantei, e, a cada tombo, me levanto ainda mais rumo aos céus, vôo longe e alcanço as estrelas.

Segue abaixo, a letra de uma música que escrevi em 2003:

O vôo da libélula

Queria amar,
Queria cantar, la la iá la iá...
Resolvi começar,
aprendi a amar:
Comecei a viver,
comecei a dizer,
comecei a sentir.
E então eu pedi:
Vem comigo para sempre,
porque a vida é música:
Seja triste, seja alegre,
no caminho se encontra
músicas, cores e tantas belezas...
E quanto às tristezas,
a gente deixa pra tras.
A gente olha pra frente,
a gente aprende a ter paz.
A gente aprende a amar
e o melhor:
aprende a ser sozinho se precisar,
aprende a não ser,
por ser melhor assim...
Vem comigo,
vamos pra vida,
vamos juntos,
sempre unidos...
Assim que sabe,
só encontraremos paz

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